segunda-feira, 9 de abril de 2018

Cadê o buraco para enfiar a cara?


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Carnaval 1995. 
13 aninhos. 
Olinda! 

Sobe ladeira, desce ladeira. Casas da ladeira do Senhor do Bonfim tocando Araketu.
- Desliga o som que lá vem o Maracatu!
- Abaixa logo que lá vem a r... voadora...
- Ufa! Passou!!!
Mas lá vem o Segurucu!
- Ai, Meu c! Meu Deus!

Um cacho de pitomba na mão, uma amiga do lado. Segue bloco, perde bloco.

E nesse agito, um corpinho alto, magro e um sorriso lindo conquista a minha atenção: Tito!

No meio do fervo e enquanto fervia o frevo, o moço decidiu nos acompanhar. E além de tudo era educado. Um lord perdido na multidão. Conversa vai e vem. E vem mais. E vem o beijo. E vem o abraço junto, daqueles bem fortes que faz tudo revirar.

E no meio desse abraço, enquanto eu sacudia o moço magrinho com força, percebi algo balançar. Tomei um susto. Não entendi nada. Achei que era efeito do pau do índio e gritei sem pensar:
- Tito, cadê teu braço?!

Minha amiga usou simultaneamente suas duas mãos. Com a direita me deu um puta beliscão e com a esquerda se apoiou pra se jogar no chão gritando:
-       Cadê meu brinco?!

Porém, Tito, um verdadeiro lord, serenamente, respondeu:
-       Foi um acidente de trânsito.

E... Pan ran ran ran, Tan ran ran ran... Lá vem outro bloco. Tito não se importou com a minha espontaneidade e continuou nas ladeiras comigo, com nossos beijos e abraços balançantes.